quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Doi-me a cabeça. Um vácuo de onde não posso sair. O longe e o perto das memórias latejam. Saudades de um copo virado ao fresco húmido do mar, a Inês encostada a mim, de costas, em silêncio, estendendo-me os seus dedos estreitos e suaves com um cigarro amarrotado e pesado. Humido o pedido:
-porque não experimentas, ao menos, uma vez?
Escureço por dentro.
Vejo o meu pai sentado, de cravo vermelho preso na camisa dos quadrados verdes que lhe deram pelo Natal no escritório, cabelo comprido, revolto até aos ombros, fotografia emoldurada,
o tudo ou o nada que dele conheço,
como se estivesse, realmente, vivo, a falar-me dos Beatles e sa Lucky in sky with diamonds,
LSD?
Talvez, quem sabe, o meu pai que tão esforçadamente inventei, alguma vez alucinado à espera de uma ressaca de vómitos e exanquecas.
Como às vezes a Inês,
estranho não é isso. estranho é conhecer um pai apenas por uma fotografia ou pela voz ainda apaixonada da minha mãe.
O teu pai foi um heroí da revolução,
Essa revolução que para mim não faz sentido, porque disso nunca tive dúvidas,
os verdadeiros heroís não se deixam morrer antes de os filhos nascerem...

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