Aquele beijo foi um ímpeto. Irresistível. Selvagem. Louco. Mais aqueles olhos verdes janelas abertas para mim, os lábios malícia cereja,
velha cena de cinema,
quartos de hotel no mesmo piso, o elevador que propicia proximidades inesperadas, um olhar, um gesto, um toque de sensualidade,
talvez estudada,
a despedida lenta, passos de tartaruga na encruzilhada do corredor de alcatifa macia, o silêncio da madrugada, a televisão a debitar baboseiras lãnguidas de amores impossíveis, o tempo a escorregar-nos pelo corpo devagar devagarinho, nós a adiarmos um tão fácil, seco,
Boa noite! ,
um passo, um simples pequeno passo. Afinal, do tamanho do Mundo, e sempre aqueles olhos janelas abertas ao beijo e ao riso. E o sorriso a principio enigmático como o da Gioconda, mas que se foi abrindo por debaixo daqueles olhos,
o espelho da alma,
-Não me faças esperar mais este desejo
foi o que me disse, ou, pelo menos, o que eu ouvi que disse. A porta do quarto a fechar-se, deixando o mundo lá fora entretido com as suas voltas de 24 horas, uma brisa de sensatez inconveniente,
- E o teu marido?...
A admiração disfarçada na segurança de um gesto de enfado
-Deita-se cedo... sempre se deitou cedo demais...
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